11/04/2009
Entrevista - Redson (Cólera)
O CÓLERA é uma das bandas pioneiras do punk brasileiro, ao lado de Condutores de Cadáver, Restos de Nada e AI-5. Mas diferente dos outros mantém-se em atividade desde sua criação e neste ano completa sua terceira década de existência. Assim, nada melhor que uma entrevista com o mentor e dessa verdadeira instituição do punk nacional, o guitarrista Redson Pozzi.
Além dos irmãos Redson (guitarra e voz) e Pierre (bateria), a formação inicial do Cólera tinha o Hélio no baixo. Depois, Val assumiu as cordas bases e ficou até os anos 90, quando fo substituído por Josué Correira, que mais tarde dara lugar a Fábio Bossi. No entanto, desde 2002 Val retornou e a formação original segue fazendo shows e deve lançar ainda este ano mais um cd.
A importância do Cólera para o punk tupiniquim está muito além do som. O Cólera sempre foi uma das bandas mais ativas do cenário e deu muita força para outros grupos existirem. Foi na aparelhagem do Cólera que o Anarcoólatras e outros grupos aprenderam os primeiros acordes. Na garagem dos Pozzi, no Capão Redondo, nasceu o Olho Seco. Lá também o Ratos de Porão gravou sua primeira demo tape. A disposição de Redson ajudou a abrir portas de muitos lugares para shows punks, inclusive em outras cidades. O Cólera foi a primeira banda punk brasileira a tocar no exterior (excluindo o Mutantes, talvez tenha sido o primeiro grupo de rock brasileiro a fazer shows na Europa). Para facilitar o lançamento dos discos da banda, Redson foi um dos fundadores (sairia depois) da Ataque Frontal, selo que até hoje atua para a existência do punk nacional, inclusive trazendo bandas gringas e lançando outras tantas nacionais.
Como a história deles é bem conhecida, resolvi fazer uma entrevista com o Redson para registrar no FZ mais esse capítulo da história do punk no Brasil.
FZ - Antes do Cólera, o que vc fazia? Como e quando começou a tocar guitarra?
Me interessei em tocar guitarra com 11 anos. Montei a primeira banda com 12, a segunda e a terceira com 14 e a quarta, com quinze. Com 17 anos montei minha quinta banda, o Cólera, ou seja, em outubro de 1979. Antes disso, eu já frequentava o point de roqueiros que era a estação São Bento do metrô, em SP. Durante três anos eu ia com meu violão Rei tocar pra galera durante três, quatro horas seguidas. Rolava desde The Doors, AC/DC, até Ramones, Ultravox. Com isso, fui convidado a tocar guitarra numa banda de punk rock de Pirituba, que se chamava Tropa Maldita.
FZ - Como conheceu o punk rock?
Com o primeiro álbum dos Pistols, mas não foi o que me deu a referência para tocar punk rock. Foi mesmo o The Clash, com seu primeiro LP. Daí veio Stranglers, UK Subs, Stiff ...
FZ - Quando e como resolveu formar o Cólera? Por que Cólera?
Em outubro de 79, conheci o Helinho na Estação São Bento, estávamos munidos de violões. Lá mesmo, depois de fazer um som juntos, decidimos montar uma banda. O nome veio de uma reportagem no jornal: “Cólera mata milhares de porcos no sul do país.”
FZ - Quem eram os primeiros integrantes? Qual, ou quais foram as primeiras músicas?
Eu no baixo e vocal, Pierre na bateria e Helinho na guitarra.
FZ - No começo, a banda tinha vocalista (Kino, se não me engano), porque saiu?
Ele era brother meu de rolê e, antes do Cólera, estávamos cogitando fazer um som juntos. Em janeiro de 1980, ele entrou como backing vocal. Depois que o Val entrou tocando baixo e eu fui pra guitarra, o Kino ficou mais três meses com a banda e teve que mudar de SP, daí perdemos contato até hoje.
FZ - E o Val? Quando entrou na banda?
Maio de 1980.
FZ - Quais eram as maiores dificuldades no começo?
Equipamento, pois não haviam opções, era caro e muito ruim. As tretas eram uma barreira frequente e o lance de não ter onde tocar, gravar, etc... Hoje temos aqui em Sampa um circuito urderground espetacular que é visitado por bandas da Europa, Japão, América Latina e América do Norte.
FZ - Onde e como o Cólera se apresentou pela primeira vez? Como foi?
Em 12 de dezembro de 1979 na escola municipal CETAL (hoje é ETAL). Foi ao lado de Restos de Nada e Condutores de Cadávers. Tocamos as 11 músicas que fizemos durante os dois primeiros meses da banda . A galera curtiu e pediu mais...daí, sem mais sons pra tocar, fizemos um som ali, na hora, um punk rock repente, chamado Desratear.
FZ - Depois de tanto tempo, como vc avalia as primeiras gravações do Cólera (Grito e Tente Mudar o Manhã)?
Fudidas em ambos os sentidos!
FZ - No LP "Pela Paz em Todo Mundo" o Cólera adotou uma postura mais politizada. Parece que houve uma espécie de "guinada" pacifista nas mensagens. Como foi esse processo?
O pacifismo foi uma veia que eu tinha desde minhas primeiras bandas de rock, antes do Cólera. Também músicas como Viralatas, Zero Zero.. Com as músicas que foram surgindo nos anos anteriores, era inevitável que fosse um álbum temático e que tudo seria com uma nova linguagem; as cores, pois os punks só usavam preto e branco...he he he, os arranjos, letras e a mensagem central: Pela Paz em Todo Mundo.
FZ - Como vc vê hoje a explosão do punk no Brasil no início dos anos 80? E a que atribui a decadência vivida por esse "movimento" a partir de 84/85?
Bem não vejo uma decadência mas sim altos e baixos com uma recente e positiva transformação. Naquela época, tivemos um ímpeto de fazer, de acreditar. Éramos basicamente um pouco mais de um mil. A situação e estilo de vida da época eram de precariedade, ditadura militar e desinformação. Atualmente, a parada não existe somente em Sampa ou Rio, mas é no país todo. Existem centenas de pessoas na cena sem saber o que fazem e porque fazem parte daquilo, mas por outro lado, há uma quantidade significativa e crescente de pessoas acreditando no D.I.Y. Viajo muito pelo Brasil em tours e posso afirmar que o que vejo é gente colocando a mão na massa, tendo resultado e crescendo sua idéia. Hoje, com internet, circuito para shows e tudo o que dispomos de recursos está rolando uma febre de lançamento de CDs produzidos pelas próprias bandas. Numa época em que venda de CD está em baixa, a cena punkrock continua realizando suas produções sem parar. Acho que cada época tem seu valor e significado.
FZ - O que vc lembra da primeira tour européia? Vc ainda tem contato com o pessoal que recebeu o Cólera por lá? Como aconteceu o convite? Vcs ganharam dinheiro lá?
Não ganhamos cash, perdemos. Nas duas tours mais recentes, 2004 e 2008, encontramos muitos amigos de 1987 na Bélgica, Alemanha e Áustria. O convite: como os LPs do Cólera vendiam muito bem na Europa, um fã da Bélgica propôs pra banda ir pra lá e fazer alguns shows. Daí emprestamos dinheiro pra comprar passagens e pagar as taxas que eram bem altas e tinha
um tal de empréstimo compulsório do governo. Conseguimos resolver e fomos com 18 shows marcados. Cinco meses depois voltamos com um total de 56 shows realizados em 10 países da Europa.
FZ - Como e porque se deu a ruptura da banda com a Ataque Frontal? Vc tem alguma mágoa com Renato Filho?
Não. Eu quis sair. Não falávamos a mesma língua.
FZ - E as hostilidades do RDP? Como vc encarou isso? Vcs chegaram a ter alguma treta física?
Faz anos que tudo isso está resolvido. Ontem mesmo tocamos juntos em Sampa, no Combat Rock, com Clemente, Mingau e Ari, recebemos os convidados, João Gordo, Jão, Sandra (Mercenárias), Daniel Beleza... Sem seqüelas...
FZ - Nos anos 90, o Cólera deu um tempo ou havia acabado?
O Cólera está realizando atualmente a tour: “CÓLERA 30 ANOS SEM PARAR!”
FZ - Vc já fez diversos projetos paralelos pode falar deles?
AXO = eu tocava tudo sozinho. Montei em 1982 e fiz uma demo nos Estudios Vermelhos.
Rosa Luxemburgo = foi um projeto com influências de Ultravox, Depeche Mode, com pegadas de funk antigo e letras em português. Durou de 1984 até 1992. Eu era o vocal.
BIKE: Toquei bateria neste projeto que tocava sons pra andar de bike. Durou 1 ano (1990).
FZ - Hoje vc considera que o Cólera é mais reconhecido que antes? Pq?
Melhoramos nossa forma de mostrar nossa idéias.
FZ - Quantas tours já fizeram no exterior?
Três: 1987, 2004 e 2008.
FZ - Como vc compara o público punk de hoje e dos anos70/80?
Hoje é mais amplo e as pessoas são bem sedentas por música ao vivo cantada em português e com conteúdo. Antes, dava-se preferência pro som de fita mais do que pras bandas.
FZ - Qual é o disco do Cólera que mais vendeu? E qual vc considera o melhor?
Pela Paz. Nenhum é melhor, é como filho, cada um é cada um. Claro que, atualmente, estou mais envolvido no próximo.... he he he he
FZ - Quais são os próximos projetos?
CD de inéditas: ACORDE ACORDE ACORDE e DVD “CÓLERA 30 ANOS SEM PARAR!
FZ - Fique à vontade para tecer quaisquer comentarios adicionais.
Deixar um salve pra todos que fazem alguma coisa legal, um som, zine, desenho....muita saúde pra todos.
FZ - Ah, posso disponibilizar alguns sons do Cólera para o povo baixar? Gostaria de disponibilizar o Tente Mudar o Amanhã. Mas se vc tiver alguma objeção dê um toque...
Pega no my space/coleraoficial, somente as que estão lá é que pode disponibilizar.
Cólera no Myspace
Comunidade Cólera no Orkut
Site oficial do Cólera
Discografia
1982 - Grito Suburbano (coletânea, participa com quatro faixas)
1984 - Tente Mudar o Amanhã (LP)
1985 - Cólera/RDP - Split ao Vivo
1986 - Dê o Fora(EP 7", lançado na Alemanha)
1986 - Pela Paz em Todo Mundo (LP)
1987 - É Natal (EP 12")
1988 - European Tour 87 (LP ao vivo)
1989 - Verde não Devaste (LP)
1991 - Mundo Mecânico Mundo Eletrõnico (LP)
1998 - Caos Mental Geral (LP)
2002 - 20 Anos Ao Vivo (CD)
2004 - Deixe A Terra Em Paz (CD)
2004 - The Best of Alemanha (CD)
2006 - Primeiros Sintomas (CD)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Pô, muito legal essa entrevista! Cólera é uma das minhas bandas brasileiras preferidas. Gosto muito do ao vivo que comemora os 20 anos da banda, e do primeiro, apesar que os outros também são ótimos.
ResponderExcluirStrongos,
ResponderExcluirtalvez a "história" seja razoavelmente conhecida, mas as "pequenas estórias", com certeza, não. Parafraseando o Redson, assim como a galera tem "sede" de música ao vivo, tem muita gente que tem "sede" de estórias.
saudações anárquicas!!
Aquela apresentação do Cólera no Olimpop, que tem no documentário Botinada, é sensacional. A cara dos jurados no final é impagável.
ResponderExcluirMaurício, valeu o comentário. Acho que o primeiro do Córlera é o melhor deles. Prefiro a fase "não militante", apesar de não discordar das idéias. É a banda punk mais atuante do país, sem dúvida.
ResponderExcluirHairy, as "estórias" são muitas mesmo. Mas a entrevista foi por e-mail e o Redson parece não ter muito tempo para escrever. Quem sabe um dia não sento com a banda toda para recordar os bons tempos e sai daí uma entrevista mais "profunda", né? Se um dia eles vierem em Bauru, pode acontecer....
Saudações anárquicas, camarada!
É uma instituição!!!! Tive a oportunidade de ver o original da capa e contracapa do E.P. É Natal, desenhada pelo Adherbal(Lobotomia),numa expo de street art aqui em Porto Alegre. Momento único na minha vida, além de tocar com os caras em 2001!!!Fantástica entrevista.Grande abraço,Strongos
ResponderExcluirStrongos, concerteza o Coléra foi uma das que mais ajudou o movimento. Redson sempre deu apoio as bandas menores (inclusive apoio a sua banda, o Anarkólotras).
ResponderExcluirAê Michel e Maurício, valeu pelos comentários. Acho que o Cólera ainda vai fazer muita coisa, pois é uma banda incansável.
ResponderExcluirSaudações anárquicas!
porra, entrevista fodassa, adoro o som dos caras
ResponderExcluirOlá amigos!
ResponderExcluirSó agora que parei pra ler minha entrevista (corrida por sinal)...e notei q faltou uma resposta:
QUAIS AS PRIMEIRAS MUSICAS;
A primeirona, foi Estranho e Nocivo, depois Débil, Sexta-Feira, Sobrado Mal assombraqdo, ESSM etv. OCD Primeiros Sintomas, tem 20 músicas do início da banda.
Abraços!
Olá amigos!
ResponderExcluirSó agora que parei pra ler minha entrevista (corrida por sinal)...e notei q faltou uma resposta:
QUAIS AS PRIMEIRAS MUSICAS;
A primeirona, foi Estranho e Nocivo, depois Débil, Sexta-Feira, Sobrado Mal assombraqdo, ESSM etv. OCD Primeiros Sintomas, tem 20 músicas do início da banda.
Abraços!