22/07/2009

Punk-Reggae Party II - Basement 5


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11/07/2009

The Members: Punk-Reggae Party, o som dos subúrbios


Quando resolvi criar esse blog, o primeiro nome que me veio à mente foi "Sound of the Suburbs". Referência a uma música do THE MEMBERS e à essência do punk rock. No fim optei por Factor Zero por motivos já explicados. Por isso, até agora não sei porque ainda não havia postado algo mais substancial sobre essa que considero uma das melhores bandas da primeira era punk. Mas nunca é tarde.
Muito comparados ao Clash (com razão) e ao Ruts (nem tanto), o Members é uma autêntica banda dos subúrbios londrinos, o que explica, em parte, a forte influência do reggae no som deles. A associação punk-reggae foi um fenômeno quase exclusivamente de Londres, já que foi daquelas quebradas que saiu a horda de desempregados responsável pela explosão punk de 76 e o som que predominava por lá antes do punk era o "pub rock" e o reggae (o que não falta na periferia londrina é jamaicano e afins). Outra característica marcante da banda eram as letras com temas mais ligados ao cotidiano e a tiração de sarro do que à política.
O Members foi formado em Camberley, uma espéce de cidade satélite de Londres, em 1976, por Nicky Tesco (vocal) e Jean-Marie Carroll, ak.a. JC (guitarra). Nos primeiros meses a formação sofreu muitas mudanças até se estabilizar com a dupla mais o baixista Nigel Bennett, o guitarrista Chris Payne e o baterista Adrian Lillywhite (irmão de Steve, o famoso produtor musical). A primeira aparição em vinil foi na coletânea Streets (um dos discos mais importantes da primeira era punk, já postado aqui no FZ) com a faixa Fear in the Streets, um manifesto contra os cabeças ocas nazistas do National Front (a palhaçada é antiga). A música também foi o único registro da formação original, com o guitarrista Gary Baker, e uma das primeiras produções de Steve Lillywhite. Meses depois, lançaram um compacto pela Stiff Records, com Solitary Confinement e Rat Up a Drain Pipe. A primeira, um clássico; a segunda, um reggae (ou ska, como queiram). Solitary é uma letra autobiográfica de Nick, sobre um cara que sai dos subúrbios e vai para Londres, onde se perde na solidão da metrópole. A mesma história de muita gente, o que ajudou a banda a conseguir a simpatia da molecada. Na época, poucas bandas cantavam sobre pequenos dramas pessoais ou problemas comuns do dia a dia.
A aproximação com o reggae e uma pegada mais melódica, com uso de metais, era outro diferencial do Members, o que também afastava o público mais radical. O flerte de Nick com o ritmo jamaicano começou por volta de 72/73, quando era estudante em Liverpool. É bom lembrar que o "movimento" 2 Tone surgiria apenas alguns anos depois e não dá para negar que o Members ajudou a pavimentar o caminho para o fenômeno que teve expoentes como The Specials, Madness, The Beat e outros tantos.
No final de 78 o Members era uma das mais famosas bandas punks do Reino Unido e a Virgin Records não perdeu tempo para contratá-los. O primeiro lançamento pela nova gravadora foi o compacto The Sound of the Suburbs, um clássico tanto em termos de som como letra.


Same old boring sunday morning
Old dad’s out washing the car

Mum’s in the kitchen cook sunday dinner

Her best meal, moaning while it lasts

And Johnny is upstairs in his bedroom sitting in the
dark
Annoying the neighbors with his punk rock electric
guitar

This is the sound of the suburbs


Every lousy monday morning

Heathrow jets go crashing over our home

Ten o’clock, broadmoor siren driving me mad

Won’t leave me alone
The woman next door just sits inside and cries

She hasn’t come out once ever since her husband died

Youth Club Groups used to wanna be free

Now they want Anarchy
They play too fast, they play out of tune
Practice in the singers bedroom
Drums quite good, the bass is too loud
And I can’t hear the words

This is the sound of the suburbs

Saturday morning family shoppers
Crowding out the center of town

Young blokes sitting on the benches
Shouting at the young girls walking around
And Johnny just stands there
In his window looking at the night
Says “Hey, what you listening to?
There’s nothing there!”
That’s right


Uma perfeita descrição do dia a dia dos subúrbios, com um acorde "clashniano", mas totalmente original. No lado b, a instrumental Handling the Big Jets acabou apenas preenchendo espaço, mas a bolachinha vendeu, na época, cerca de 250 mil cópias, algo bem incomum para uma banda punk. Isso ajudou - e muito - para que tivessem todo apoio em termos de produção para gravarem o primeiro LP. Tiveram o tempo que precisassem no estúdio e ainda contaram com a produção de Steve Lillywhite, que já começava a ganhar experiência e fama (trabalhava na época com o Siouxsie and the Banshees). O resultado foi o excelente At Chelsea Night Club (apesar do título, não é ao vivo), um disco indispensável em qualquer coleção que pretenda cobrir a melhor época do punk rock (76-82). Não gosto de "analisar" discos (melhor quem ouve fazer isso por conta própia), mas para este vou abrir uma exceção. Marca registrada do grupo, o LP começa com um instrumental (nos shows também faziam isso). A segunda faixa, Sally, já mostra a energia e criatividade do Members, ao mesclar acordes básicos com partes de reggae (algo que se tornaria muito comum nos anos 90, em grupos da linha do Sublime). A terceira faixa - uma de minhas favoritas - é Soho a Go-Go, que começa lenta e depois vai ganhando corpo em um acorde melódico, porém, pesado. Don't Push poderia ter sido incluída pelo Clash em London Calling que ninguém notaria que não era uma música deles. Na sequência, para fechar o lado A do LP (em CD isso não existe!) vem uma versão mais bem produzida de Solitary Confinement. O lado B abre com com o empogante e sananíssimo "punkabilly" Frustated Bagshot e segue com Stand Up and Spit, um reggae de refrão instigante antes de uma outra regravação, desta vez, The Sound of The Suburbs. Depois, a satírica Phone in Show, mais um roquinho sacana sobre masturbação precede a faixa mais comercial do disco é Love in a Lift, outro reggae com quase cinco minutos de duração e que termina com guitarras pesadas em alta velocidade. A última faixa, Chelsea Night Club, é a mais punk de todas, com acorde simples e vocais agressivos. Para muita gente, o maior clássico deles. Enfim, é um disco para muitos gostos, que os mais radicais podem considerar "comercial", mas é apenas rock'n'roll (ou punk rock) com molho reggae (ou ska). At Chelsea... foi bem recebido por público e crítica e colocou o Members no patamar de bandas grandes, além de tornar o grupo idolatrado entre a molecada suburbana.
Depois desse lançamento, o grupo manteve o ritmo de trabalho com uma média de quatro shows por semana e, nem bem colheram todos os frutos do disco, estavam em estúdio mais uma vez para conceber o single Offshore Bank Business. A música que dá título à bolachinha é um reggae que fala sobre as falcatruas financeiras de grandes empresas em paraísos fiscais. Isso em 1979! Uma letra que caberia perfeitamente nos dias atuais, marcados por uma "crise" (golpe) econômica evidentemente gerada pela ganância especulativa do mercado financeiro. Além disso, o compacto saiu um ano antes da explosão 2 tone. Nem precisa falar mais, né?
E, para mostrar que ainda tinham o punk na veia, no início de 1980 colocaram nas lojas outro single, com Killing Time e GLC, faixas em um estilo próximo ao Oi. Os dois compactos prenunciavam o que viria no segundo LP: mais versatilidade. The Choice is Yours foi o título escolhido para o disco, na prática, uma continuação do primeiro. No entanto, a produção, desta vez a cargo de Rupert Hine, tendo em vista que Steve já não estava mais tão disponível (nem para a banda do irmão!), não conseguiu manter a qualidade. Não que seja ruim, mas Rupert não conhecia o Members, nem o punk, nem o reggae, era apenas um produtor pop da área de "fabricação de hits" da Virgin. Apenas após o disco lançado é que ele foi assistir um show da banda. Pecado mortal. Mas o disco é bom. Aliás, muito bom. Há momentos puramente pop, como Romance e flertes com o som "new wave", como em Phisycal Love. Mas a banda ainda era o The Members e a energia punk se faz presente em Goodbye to the Job, Flying Again e Muzak Machine. Gosto muito também de Police Car, Gang War e Brian Was, tanto pelas letras como pelo som um pouco mais lento, porém, com o espírito punk setentista. O reggae, já com uma tendência mais para o ska, aparece na instrumental The Ayatollah Harmony que abre o disco e também em Clean Men. Em resumo, o Members mantinha-se à frente de seu tempo e, óbvio, pouco compreendidos na época. Estranhamente, The Choice is Yours teve melhor repercusão nos EUA que na Inglaterra.
Como não conseguissem vendas estupendas, o descontentamento da Virgin não demorou a se manifestar. E da banda também. Assim, o contrato com a major foi rompido. Em consequência, eles voltariam ao estúdio apenas na segunda metade de 1981, pelo selo Genetic, de Mike Rushent (Human League) amigo do empresário da banda, Ian Grant, ligado à Arista e à IRS. A partir daí, o Members assumiu uma posição claramente comercial, abandonou de vez o "som do subúrbio" e passou a fazer o som das pistas de dança, com um estilo disco, funk, soul, etc. Em 1983, lançaram o terceiro LP, Uprhythm Downbeat, um disco decepcionante, que sepultou o passado glorioso da banda. O LP saiu apenas nos EUA, aliás, nessa época o grupo praticamente mudou-se para a terra do Tio Sam em clara tentativa de fazer sucesso por lá com o "novo" som. Não funcionou e história acabou ainda em 83, após mais uma das muitas tours que fizeram pela América do Norte.

Baixe aqui At Chelsea Night Club, aqui The Choice is Yours e aqui os Singles (que juntei em um arquivo, já que nunca foram lançados em um só disco)


THE MEMBERS FACTS
  • Durante um bom tempo o Members existiu apenas na cabeça de Nick Tesco, que para impressionar garotas e enturmar-se falava para todo mundo que tinha uma banda, mas não tinha. Mentiroso! Então, certo dia um tal de Mike Kingsley (empresário e proprietário de um estúdio) o viu usando uma máquina de escrever em uma festa e perguntou o que fazia. A resposta: "estou escrevendo uma canção". Então o cara concluiu que ele tinha uma banda e disse que gostaria de ouvir o som... Nick não negou e em uma semana arrumou alguns músicos e fez três ou quatro sons (um deles, GLC, faixa que seria lançada em compacto alguns anos depois). JC entraria no grupo pouco depois. O fato é que em pouco tempo o Members saía da imaginação de Nick e tornava-se realidade.
  • As primeiras cópias de The Choice is Yours saíram com uma gravata do Members (um símbolo da banda) de brinde.
  • Uprhythm Downbeat foi lançado com alguns anos de atraso na Inglaterra, com o título Go West, pela Albion Records, sem autorização da banda.
  • Após o fim do Members, JC Carol formou o JC Mainmen e mais tarde o JC and the Disciples, ainda em atividade. Em 1985, participou como acordeonista no LP Que Sera Sera, de Johnny Thunders (o disco tem ainda participações de Steve Bators, Perry Nolan, Steve Jones e Paul Cook, entre outros).
  • Nick Tesco, por sua vez, ainda nos anos 80, lançou um single com o rapper nova iorquino J. Walter Negro e depois trabalhou como ator com o diretor finlandês Aki Kaurismäki na série de filmes que criou o grupo fictício Leningrad Cowboys (que depois, tornou-se uma banda de verdade).
  • Em 2006, o Members reuniu-se para comemorar o aniversário de JC Carroll e desde então voltaram a tocar esporadicamente. Inclusive, recentemente lançaram uma regravação de Offshore Bank Business, com o título International Financial Crisis. Nick Tesco não faz parte do Members ressuscitado, que tem Nick, Chris e Nigel (que também toca com o reformado Vibrators) da formação original.